De todos os argumentos contra o amor, nenhum seduz tão
fortemente minha natureza quanto esse: “Cuidado! Isso pode fazê-lo sofrer!” Minha natureza, meu temperamento. Mas não minha consciência. Quando me deixo seduzir, eu me sinto a milhares de quilômetros de distância de Cristo. Se tenho certeza de uma coisa na vida, essa certeza é a de que seu ensinamento jamais teve o propósito de confirmar minha preferência por investimentos seguros e riscos limitados ou meu estado de conforto.
Nós seguimos aquele que chorou sobre Jerusalém e no túmulo de Lázaro (...). Não existe investimento seguro. Amar é ser venerável. Ame qualquer coisa, e seu coração certamente vai doer e talvez se partir.
Se quiser ter certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse
esquife – seguro, sombrio, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai se tornar indestrutível.
Impenetrável, irredimível. A alternativa à tragédia, ou pelo menos ao risco de uma tragédia, é a condenação. O único lugar além do Céu onde você pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos
e perturbações do amor é o inferno.
Acredito que até os amores mais desgorvenados e desmedidos são menos contrários a vontade de Deus do que uma ausência de amor autoprovocada e autoprotetora. É como guardar o talento num lenço, e praticamente pela mesma razão: “ Eu sabia que o senhor é
um homem severo.”
Cristo não ensinou e sofreu para que nós fôssemos mais cuidadosos com nossa felicidade, mesmo nos amores naturais.
(...) Não nos aproximamos de Deus procurando evitar sofrimentos intrínsecos e todos os amores, mas aceitando –os e oferecendo-os a ele, renunciando a toda a carapaça defensiva. Se nosso coração tive
r de partir-se, e ele decidir que é desse modo que deve se partir, assim seja.
C.S.Lewis ,
Os quatro amores
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